domingo, 10 de abril de 2011

Grande parte das Escolas de Caxias ainda estão sem aula e merenda. A rede pública de ensino vive uma crise estrutural vergonhosa.

10/04/2011 - 07h47

Problemas travam avanço do ensino municipal de Caxias

Anele de Paula/ O Estado
foto: Anele de Paula
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Problemas travam avanço do ensino municipal de Caxias
CAXIAS - Mesmo tendo recebido nos dois primeiros meses deste ano mais de R$10 milhões somente em recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), a Prefeitura de Caxias não consegue sanar os problemas nas unidades educacionais do município. E eles vão desde simples goteiras em sala de aula à ausência de estrutura nas instalações físicas dessas escolas.
Os principais prejudicados são os estudantes. Os educadores e diretores se calam, alguns por temerem represálias, outros por serem coniventes com o que está acontecendo com as escolas da rede municipal de Caxias.
Na zona rural, por exemplo, foi constatada pelo Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipal a situação precária na qual os estudantes da Escola São João estudam. A unidade está localizada no Segundo Distrito de Caxias.
A Escola São João funciona em uma casa com paredes de taipa e coberta de palha. O chão é de barro e as carteiras são improvisadas. Uma delas, que serve para quatro alunos sentarem de uma única vez, é improvisada.
A cadeira foi montada com duas carteiras e uma porta velha que funciona como assento. Uma carteira funciona como apoio e a outra é utilizada para pôr livros e cadernos durante a aula.
Na unidade educacional não há secretaria, não há cantina e muito menos merenda escolar. São os próprios estudantes que cobram um lugar melhor para estudar, como é o caso de Francisca da Silva, de 8 anos.
“A gente só queria estudar em um local melhor porque aqui é muito ruim, a gente não tem como aprender nada”, criticou a aluna. “Tem dia que a gente está estudando e cai cobra e rato do teto”, reclamou a estudante.
Abandono
A situação da Escola São João é parecida com a dos demais estabelecimentos de ensino já denunciadas por O Estado. Nas comunidades da zona rural, o poder público ainda não chegou para administrar.
Os pais também reclamam da precariedade dessas unidades de ensino. Eles afirmam que em algumas localidades as escolas existem porque o Município oferece o professor, mas a infraestrutura acaba ficando por conta das comunidades onde elas estão localizadas.
“Minha filha só vai para a escola porque é o jeito, mas é muito ruim ela estudar. A escola está em ruínas e as crianças não têm outro lugar para ir”, ressaltou uma mãe.
Desde que as aulas começaram no dia 18 de fevereiro, outro problema voltou a se repetir, a falta de merenda escolar. Tanto na zona urbana quanto na rural, os estudantes conferem os dias que tiveram acesso a merenda.
Para amenizar a fome, muitos tomam picolé, que custa R$ 0,50, para agüentar até o fim da aula. Os que não têm dinheiro voltam para casa com fome.
Comunitárias
Se nas escolas das zonas urbana e rural os estudantes estão passando por dificuldades de aprendizagem por conta da qualidade dos estabelecimentos que frequentam, o pior está nas unidades comunitárias de Caxias e elas são muitas espalhadas na cidade.
Algumas estão situadas em prédios cedidos por lojas maçônicas. Os espaços nessas escolas são pequenos e sem infraestrutura para abrigar uma escola. As escolas comunitárias se dedicam à educação infantil, ensino que é de competência dos municípios.
O chão da maioria destas escolas tem o piso deteriorado. As salas de aulas são quentes e separadas por divisórias inadequadas. Nas unidades de ensino que oferecem banheiro, este funciona precariamente.
Em algumas escolas comunitárias, o banheiro não tem porta e as crianças fazem suas necessidades protegidas por cortinas de plástico. Há várias semanas as unidades de ensino não recebem merenda escolar.
A doutora em História da Educação, Maria de Fátima Félix Rosar, disse que é inadmissível que uma cidade como Caxias ainda tenha escolas comunitárias em pleno centro urbano.
“Não há mais como Caxias ainda abrigar escolas comunitárias, mas infelizmente essa prática existe e ela só serve para alimentar uma parcela de amigos do poder”, alfinetou Fátima Rosar.

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